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Foto do escritorCarioca da Gema

Elizeth Cardoso é Carioca da Gema

Autor: Luis Pimentel

Caricatura: Carlos Amorim

Ela nasceu em 1920. Faria 91 anos neste julho de 2011 (no dia 16), e provavelmente ainda estaria cantando, pois era o que Elizeth Cardoso mais gostava de fazer e o que de melhor fez em toda a sua vida, que durou exatos 70 anos.

Menina de infância pobre e adolescência humilde, Elizeth trabalhou como pedicure, cabeleleira, telefonista e vendedora de cigarros. Mais tarde, depois de um casamento equivocado e um filho para criar, foi táxi-girl de casa noturna (o Dancing Avenida). Tudo isto, antes do transcendental encontro com Jacob e dos desdobramentos felizes que o destino lhe trouxe: conhecer o poeta e produtor Herminio Bello de Carvalho, que a dirigiu em shows, a ajudou a escolher repertório, cuidou de sua carreira e de seu coração. Mais detalhes, na biografia da Divina, Elizeth Cardoso, uma vida, escrita pelo jornalista Sérgio Cabral.

Até o dia 7 de maio de 1990, quando o coração inquieto da doce cigarra parou de bater, Elizeth Cardoso cantou, encantou, despertou emoções e paixões. A mais insistente teria sido o poeta Vinicius de Moraes. Conta Hermínio, em texto de apresentação da caixa de discos “A faxineira das canções”, reunindo a obra da intérprete, que “Elizeth andava perdendo a paciência com aquele assédio (por parte de Vinicius) e apelou para seu amigo Antonio Maria. O poeta cismara de dormir com ela. As cantadas se sucediam, e ela firme nas negativas. O bom Maria deu a dica para a amiga: “Quando ele der de novo em cima de você, diga assim, na lata: então tem que ser agora”! Dito e feito. Vinicius amarelou, pediu um uisquinho, mudou o rumo da conversa – e a amizade nunca acabou sob os lençóis”.

Nas quatro preciosas coletâneas reunidas em Faxineira das canções – um projeto antigo, mas que eu recomendo sempre – temos Elizeth Cardoso cantando os melhores momentos da música brasileira, sem qualquer exagero: Tom e Vinicius (Se todos fossem iguais a você e Modinha, entre outras), Jacob e Herminio (Doce de coco), Baden e Paulinho Pinheiro (Cabelos brancos e Voltei, e várias outras), Walter Queiroz (Luz e esplendor), Cartola e Herminio (Camarim), Herivelto Martins e Aldo Cabral (Bom dia), Ary Barroso (Na batucada da vida, Camisa amarela, Folha morta e muitas outras, um disco inteiro), Noel Rosa (Feitiço da Vila), Luiz Reis e Haroldo Barbosa (Nossos momentos), Pixinguinha e Vinicius (Lamento e Mundo melhor), Chico Buarque (Carolina), Carlinhos Lyra (Derradeira primavera).

Elizeth é a MPB em estado puro. É para sempre.

(Luís Pimentel)

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